terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Comentando o chão...

Por Joedson Silva

Quando adolescente ainda, quase adulto já, quis dizer palavras como essas do poeta que o texto seu aqui há de acompanhar. Queria afirmá-las como num recital, numa reunião de amigos, numa esquina, num bar, em algum quintal... Não sei... sei bem que as queria! "Do dentro para o fora", urgentemente! Como se delas eu fosse regente. Ou como se de mim por ventura brotado tivessem. A mim, à época, cabiam apenas uns curtos entendimentos, soltos em cada enunciado que ensaiava produzir sentido em mim. Me empolgava com o trecho final: "Que a arte nos aponte uma resposta", dizia eu, aos brados e era suficiente para me apaixonar. Muitos outros entendimentos passaram batidos, pela inexperiência da vida até ali vivida mesmo. 
Corri trecho. Descobri uns mundos. Segui alguns. Fui seguido por outros, mas, sobretudo, segui em frente. Conheci gente-gente e também gente nem tão gente assim. Grudei e desgrudei em algumas peles, noutras passeei somente. Suei camisa para  enxergar o quanto de vida que a vida leva para levar a nossa alma para qualquer lugar que se possa sonhar estar.
E hoje...
Bem, hoje recebi, como recomendação de leitura/escuta, de uma linda Malu(ca), a qual costumo chamar de "pequeno oráculo" - pequeno porque ela é pequena mesmo na altura, não na profundidade - as mesmas palavras que outrora eu diria sem saber, mesmo sabendo, que não sabia de nada. Essa pequena me fez voltar um pouco no tempo... nos sonhos... nos trilhos... nas ondas... nas asas que me queriam elevar... Essa pequena, que teima em me dar lições de amor'al, faz sempre questão de me espezinhar, diariamente, fazendo-me lembrar que "sim, está em mim e eu não retiro".
Muitos trechos do texto ainda soam pouco claros, visto que hoje cheguei a lugar algum, mas inda sigo e inda brigo para afirmar o tom que melhor ecoa em mim.
Não há como fugir do que grita de dentro!


Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
A outra metade é silêncio
Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Pois metade de mim é partida
A outra metade é saudade
Que as palavras que falo
Não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas como a única coisa
Que resta a um homem inundado de sentimentos
Pois metade de mim é o que ouço
A outra metade é o que calo
Que a minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que mereço
Que a tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso
A outra metade um vulcão
Que o medo da solidão se afaste
E o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso
Que me lembro ter dado na infância
Pois metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade não sei
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o seu silêncio me fale cada vez mais
Pois metade de mim é abrigo
A outra metade é cansaço
Que a arte me aponte uma resposta
Mesmo que ela mesma não saiba
E que ninguém a tente complicar
Pois é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Pois metade de mim é plateia
A outra metade é canção
Que a minha loucura seja perdoada
Pois metade de mim é amor
E a outra metade também